O feudalismo
No fim do Império Romano do
Ocidente (século V), diante da crise econômica e das invasões germânicas, muito
dos grandes senhores romanos abandonaram as cidades e foram morar nas suas
propriedades no campo. Esses centros rurais, conhecidos por vilas romanas,
deram origem aos feudos medievais.
IMAGEM 01 – OS CAVALEIROS E SEUS
FEUDOS-A
Muitos romanos menos ricos passaram
a buscar proteção e trabalho nas terras desses grandes senhores. Para poderem
utilizar as terras, no entanto, eles eram obrigados a entregar ao proprietário
parte do que produziam. Essa relação entre o senhor das terras e aqueles que
produziam ficou conhecida por colonato.
Nas vilas romanas os
grandes senhores de terra utilizavam também muitos escravos. Com o tempo,
porém, eles perceberam que era mais rendoso libertar os escravos e
aproveitá-los sob o regime de colonato. Além disso, o cristianismo, que no
século IV passou a ser a religião oficial do império, não via com bons olhos a
escravidão.
Com esvaziamento das
cidades e a ida em massa da população para o campo, o governo central foi
perdendo o controle sobre os grandes senhores de terra. Estes passaram a
administrar suas vilas da maneira que queriam.
No século VIII, os
muçulmanos conquistaram a península Ibérica, a Sicília, a Córsega e a Sardenha,
“fechando” o Mar Mediterrâneo à navegação e ao comércio europeu. No século IX,
os normandos conquistaram a Britânia e o noroeste da França, e os magiares,
cavaleiros nômades provenientes das estepes euroasiáticas, invadiram a Europa
oriental. Todas essas condições levaram ao estabelecimento do sistema feudal.
A Europa, isolada dos
outros continentes, fragmentou-se internamente. Com as vias de comunicação
bloqueadas e as cidades despovoadas, o comércio europeu se reduziu à simples
troca de mercadorias. A agricultura acabou sendo praticamente a única atividade
econômica. O poder político passou das mãos do rei para os grandes senhores de
terra.
Formou-se, assim, o sistema
feudal — tipo de economia e organização política e social que caracterizou a
Europa na Idade Média.
Como
funcionava o sistema feudal
No sistema feudal, o rei
concedia terras a grandes senhores. Estes, por sua vez, davam terras a outros
senhores menos poderosos, chamados cavaleiros,
que, em troca, lutavam a seu favor.
Quem concedia a terra era um suserano, e quem a recebia era um vassalo. O vassalo, ao receber a terra,
jurava fidelidade a seu senhor. O juramento de fidelidade consistia numa homenagem
prestada por um vassalo e a seu suserano: o vassalo se ajoelhava diante do
suserano, colocava sua mão na dele e prometia ser-lhe leal e servi-lo na
guerra.
Abaixo dos cavaleiros havia
os lavradores e os camponeses. Todos recebiam terras e proteção do senhor, o
que nesses tempos era importante, pois as lutas locais e guerras entre os
grandes senhores eram frequentes. Em troca, eles prestavam serviços aos senhores,
quer no cultivo das terras, quer no seu exército.
Os suseranos e os vassalos
estavam ligados por obrigações recíprocas: o vassalo devia serviço militar a
seu suserano e este, proteção militar a seu vassalo.
Pode-se dizer que não havia
quem não fosse vassalo de outro. O senhor era vassalo de um rei que, por sua
vez, era vassalo de imperadores e estes se consideravam vassalos de Deus.
IMAGEM 02 – OS CAVALEIROS E SEUS
FEUDOS-B
Os
cavaleiros
Cavaleiro era um homem de
nascimento nobre que praticava a luta a cavalo. A lealdade e a coragem física
eram as principais virtudes de um cavaleiro.
No início, para ser
cavaleiro bastava possuir um cavalo e uma espada. Em troca de serviço militar,
o cavaleiro recebia seu feudo, onde erguia uma fortaleza bastante primitiva. Pouco
a pouco, porém, todo cavaleiro ficou obrigado a defender até a morte seu senhor
feudal sua fé em Deus e a honra de sua dama. Com isso, as condições para alguém
chegar a cavaleiro passaram a ser mais rigorosas. O jovem nobre iniciava a
aprendizagem aos sete anos, servindo como pajem em casa de um senhor, onde
aprendia equitação e o manejo das armas. Aos quatorze anos tornava-se escudeiro
de um cavaleiro, passando sete anos, pelos menos, a seu serviço, vestindo-o,
tratando de seu cavalo e de suas armas, ao mesmo tempo que aprendia com ele as
artes do combate.
IMAGEM 03 – OS CAVALEIROS E SEUS
FEUDOS-C
Para ficar forte, tomava
parte em corridas, em lutas livres e praticava esgrima. Para se preparar para
torneios e combates, aprendia a “correr a Quintana”: tratava-se de galopar em
grande velocidade em direção a um boneco de madeira e cavar-lhe a lança entre os
olhos. O boneco estava munido de um pau e montado sobre um parafuso. Quem não o
atingia bem com a lança apanhava com o pau nas costas.
Depois do tempo de
aprendizagem, se o jovem fosse considerado preparado e digno, estava pronto
para ser armado cavaleiro. “Regra geral, a cerimônia em que o jovem ‘cingia a
espada’ era celebrada pelo senhor junto de quem o novo cavaleiro tinha passado
seus anos de aprendizagem.
Após um banho ritual
destinado a purificar-se de todo pecado, o postulante colocava sua espada e sua
armadura novas no altar da capela do castelo. Na manhã seguinte, depois da
missa, era vestido com um traje de veludo bordado e entregavam-lhe oficialmente
as esporas douradas, seu cinturão de cavaleiro e sua espada. Prostrando-se aos
pés de seu senhor, repetias os votos de cavaleiro — ser bom e generoso para com
os amigos, vencer os traidores, renunciar ao mal, proteger a viúva e o órfão,
servir seu senhor e cumprir seus deveres religiosos.
O senhor dava-lhe então a pescoçada,
com a mão ou com a lâmina da espada no ombro ou no pescoço. Chamava-se também a
palmada. Então o jovem levantava-se: era cavaleiro e podia ter seu cavalo
próprio e suas armas pessoais. O resto do dia era passado em festas e
distrações” (JOHN GILBERT. A vida de um cavaleiro no tempo das Cruzadas.
Lisboa, Verbo, 1985. P. 24).
IMAGEM 04 – OS CAVALEIROS E SEUS
FEUDOS-D
As
relações sociais no feudalismo
A sociedade feudal era
dividida em estamentos. Os estamentos
eram camadas sociais, nas quais a posição social dos indivíduos dependia do
nascimento. Havia, basicamente, dois estamentos: senhor e servos. O senhor
tinha a posse dos servos, a posse legal da terra, o poder político, militar,
jurídico e religioso (quando era um padre, bispo ou abade). Os servos não
tinham a propriedade da terra e estavam presos a ela. Não podiam ser vendidos
como se fazia com os escravos, nem tinham liberdade para abandonar as terras
onde nasceram.
IMAGEM 05 – OS CAVALEIROS E SEUS
FEUDOS-E
Os escravos eram poucos e
dedicavam-se aos afazeres domésticos. Além dos servos e escravos, havia outro
tipo de trabalhador: o vilão. Este não
estava preso à terra. Descendia de antigos pequenos proprietários romanos e,
não podendo defender sua propriedade entregava-a a um grande senhor em troca de
proteção. Os vilões recebiam um tratamento mais brando que os servos. Havia,
finalmente, os ministeriais, funcionários do senhor feudal, encarregados de
arrecadar os impostos.
O servo estava preso a uma
série der obrigações devidas ao senhor e à Igreja. Estas obrigações passavam do
pai para filho. Algumas delas eram pagas em serviços, outras em produtos, em
presentes e em dinheiro.
O servo, além de ter de
trabalhar de graça as terras do senhor durante três dias por semana, tinha que
entregar uma parte do que produzia ao senhor feudal.
Mas isso não era tudo. “Quando
havia pressa, como em época de colheita, tinha primeiro que segar os grãos nas
terras do senhor. Esses ‘dias da dádiva’ não faziam parte do trabalho normal
(...). A propriedade do senhor tinha que ser arada primeira, semeada primeira e
ceifada primeiro. Uma tempestade ameaçava fazer perder a colheita? Então, era a
plantação do senhor a primeira que deveria ser salva. Chegava o tempo da
colheita, quando a ceifa tinha de ser rapidamente concluída? Então, o camponês
deveria deixar seus campos e segar o campo do senhor. Havia qualquer produto de
lado para ser vendido no pequeno mercado local? Então, deveriam ser o grão e o
vinho do senhor os que o camponês conduzia ao mercado e vendia primeiro.
Eram quase ilimitadas as
imposições do senhor feudal ao camponês. De acordo com um observador do século
XII, o camponês ‘nunca bebe o produto de suas vinhas, nem prova uma migalha do
bom alimento; muito feliz será se puder ter o seu pão preto e um pouco de sua
manteiga e queijo’...” (LEO HUBERMAN. Histórias da riqueza do homem. 19ª ed.
Rio de Janeiro, Zahar, 1983, p. 14-15.)
Além dessas atividades, em
caso de guerra os camponeses formavam o exército do feudo. Eram chamados peões,
porque iam a pé.
O feudalismo, portanto,
implicava em muitas injustiças e sofrimentos para os que estavam na base da pirâmide
social.
O
feudo
O feudo era o domínio de um
senhor feudal.
Não se sabe o tamanho médio
desses feudos. Parece que os menores tinham pelo menos 120 ou 150 hectares. Cada
feudo compreendia uma ou mais aldeias, as terras cultivadas pelos camponeses, a
floresta e as paisagens comuns, a terra pertencente à igreja paroquial e a casa
senhorial, que ficava na melhor terra cultivável.
IMAGEM 06 – OS CAVALEIROS E SEUS
FEUDOS-F
Pastos, prados e bosques
eram usados em comum. A terra arável era dividida em duas artes. Uma, em geral
a terça parte do todo, pertencia o senhor; a outra ficava em poder dos
camponeses.
Nos campos dos feudos
plantavam-se principalmente cereais (cevada, trigo, centeio e aveia).
Cultivavam-se também favas, ervilhas e vinhas.
Os utensílios da lavoura
eram rudimentares. Eram usados a charrua ou arado, a enxada, a pá, a foice, a
grade e o podão. Nos feudos criavam-se carneiros, que forneciam a lã; bovinos,
que forneciam o leite; e cavalos, para a guerra e o transporte.
IMAGEM 07 – OS CAVALEIROS E SEUS
FEUDOS-G
O
declínio do sistema feudal
O fator que mais contribuiu
para o declínio do sistema feudal foi o ressurgimento das cidades e do
comércio.
Com o ressurgimento das
cidades, os camponeses passaram a vender mais produtos e, em troca, conseguir
mais dinheiro. Com o dinheiro alguns puderam comprar sua liberdade. Outros simplesmente
fugiram para as cidades em busca de melhores condições de vida.
A criação de exércitos profissionais, oferecendo a oportunidade aos camponeses de se tornarem soldados mercenários (que recebiam remuneração) e tornando superados os métodos de guerra dos nobres, também influiu sobre o declínio do sistema feudal. Ao aparecimento das monarquias nacionais, principalmente na França e na Inglaterra, foi outro fator decisivo, pois os reis desses países conseguiram diminuir cada vez mais o poder dos nobres.
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