“No ano de
mil setecentos e setenta e um, e a vinte e um de julho, realizaram-se as
sagradas cerimônias e preces sobre Napoleão, filho do legítimo matrimônio do
senhor Carlos Maria Buonaparte e da senhora Maria Letízia Ramolino, sua
esposa..., nascido a quinze de agosto de mil setecentos e sessenta e nove...”
Esta
certidão de batismo marca não só o início da vida de um homem, mas também de
uma epopeia, entrelaçada de lendas jamais esquecidas.
Infância e
juventude de Napoleão
 
Quando
Napoleão nasceu, mal tinham cessado as lutas dos corsos contra as tropas
francesas de ocupação. Seu pai, jurista formado em Pisa, Itália, e descendente
de distinta família – já em 1100 mencionada nas crônicas de Florença –, opôs-se
inicialmente aos franceses, quando estes anexaram a ilha, em 1768. Mas ficou em
Ajaccio –capital da Córsega – e chegou a ser conselheiro real. Se tivesse
abandonado a Córsega após a vitória da França, como o fizeram muitos outros
italianos, Napoleão nunca teria sido francês. E, provavelmente, não teria
praticado nenhum dos feitos que o imortalizaram e mudaram a face do mundo no
início do século XIX. 
Segundo
filho de uma família de oito irmãos – sem contar os 5 natimortos –, foi de sua
mãe que herdou quase todos os traços físicos e o temperamento. Ele mesmo disse:
“À minha mãe devo minha fortuna e tudo o que de bom tenho feito...” Deveria
mais: a mãe o acompanhou no exílio na ilha de Elba, lutou pela sua libertação
quando do exílio em Santa Helena e o sobreviveu por 15 anos, incansável
batalhadora pela reabilitação de sua memória. 
Iniciando os
estudos em Ajaccio, Napoleão concentrou seu interesse na História e na
Matemática. No colégio vivia pensativo e sombrio, sempre insatisfeito, nunca
participando de jogos com os colegas. Essa mesma atitude demonstrava algum
tempo depois, quando seguiu para o colégio militar de Brienne, na França. Ali,
sofria saudades da Córsega. “Ser privado do quarto onde se nasceu”, dizia, “é o
mesmo que não ter pátria.” Logo conquista antipatias, respondendo com um
silêncio obstinado às censuras dos professores e com socos às zombarias dos
colegas. Assim viveu 5 anos em Brienne – a estudar Matemática, Geometria,
Álgebra, Trigonometria e História, e a ler biografias de homens ilustres e
narrações militares. Afinal, em 1784, seguiu para a Escola Real Militar de
Paris, onde começaria sua carreira. Aos 16 anos era subtenente de artilharia e
já seu examinador notava que se tratava de “um moço, extremamente ambicioso”.
A vitoriosa
Revolução de 1789, que derrubou Luís XVI, em nada mudou o destino de Napoleão.
Andou realizando missões secundárias pelo interior da França, até que, em 1793,
teve sua grande oportunidade em Toulon. A cidade se rebelara contra o novo
governo republicano do país. O comandante da artilharia local foi ferido na
batalha e Napoleão assumiu o comando. Derrotou os insurretos e, em virtude
desse feito, ficou conhecido; foi nomeado general de brigada, apesar de ter
apenas 24 anos de idade. As complicações políticas colocaram-no de novo à
margem dos acontecimentos até o dia 4 de outubro de 1795, quando salva a
República, derrotando os revoltosos partidários da monarquia. Em consequência,
recebe nova promoção, é nomeado comandante do Exército francês.
Nessa época
conhece Josefina Beauharnais, viúva de um general guilhotinado na Revolução: a
9 de março de 1796 realiza-se o matrimônio. Mas a sua carreira torna impossível
até a lua-de-mel: dois dias depois da cerimônia parte para a guerra na Itália,
onde revela seu extraordinário gênio militar. Vitorioso na Itália e depois na
Áustria, visa abolir os velhos regimes monárquicos pelos novos, correspondentes
aos ideais da Revolução Francesa: com isso, torna-se temido na Europa. Volta a
Paris e, aplaudido pelas multidões, é olhado com suspeição pelos generais mais
velhos. Augereau, um deles, chegou a dizer: “Amedrontou-me este pequeno general
corso.” O governo também passa a temer seu inesperado prestígio e assim resolve
afastá-lo do centro dos acontecimentos: aceita seu plano de invadir o Egito,
ali fazer a guerra aos ingleses e conquistar aquele país.
Ao lado do
Exército, Napoleão leva uma missão científica, cujas descobertas foram da maior
importância; entre elas, a da famosa Pedra de Roseta, que permitiria a
Champollion decifrar os hieróglifos. O Egito é tomado pelas armas, numa
campanha rapidíssima; Napoleão entra na Palestina e aproxima-se da Síria, mas
não consegue tomar Acre (hoje denominada Acco, em Israel) e, tendo notícias de
problemas políticos na França, volta a Paris em outubro de 1799.
A insatisfação na França era grande. Napoleão aproveita e, num golpe de Estado a 18 Brumário (que foi a data do novo calendário da Revolução para 9 de novembro de 1799), assume o governo. É nomeado Primeiro Cônsul, depois passa a Cônsul único e, afinal, se faz Imperador, coroado em 1804 pelo Papa. Cerca-se de uma corte suntuosa, distribui títulos de nobreza a seus generais e altos funcionários, e transforma seus irmãos em monarcas: Joseph torna-se rei de Nápoles; Louis, da Holanda; Jerôme, da Westfalia; Elisa, sua irmã, fica sendo grã-duquesa de Toscana. Mas Napoleão não tinha filhos que o sucedessem e, sob esse pretexto, separa-se de Josefina, em 1809. No ano seguinte, casa-se com a princesa Maria Luísa da Áustria, filha de Francisco II e irmã de D. Leopoldina esposa de D. Pedro I, e primeira imperatriz do Brasil. Enfim, tem um filho, em 1811 – o “rei de Roma”, que, no entanto, jamais chegou a ocupar o trono, tendo vida breve e infeliz. Este episódio demonstra até que ponto Napoleão traiu os ideais republicanos da Revolução: agora, preocupa-se até pela descendência – almeja criar a sua própria dinastia. A expansão territorial que Napoleão iniciara continuou.
Em pouco tempo tem sob seu poder os estados da Itália dividida, os Países-Baixos, a Polônia e vários principados da Alemanha. Mas não consegue quebrar a resistência da monarquia espanhola, apesar da invasão inicialmente vitoriosa, nem a da Rússia, apesar das tentativas políticas de acordo, nem a do império austríaco. Tem contra si a poderosa Inglaterra que controla os mares, e que, ajudando as nações dominadas, fomenta revoltas. Napoleão reage: decreta contra aquele país o bloqueio continental. A Europa obedece; só o Czar Alexandre I não cumpre a determinação. Napoleão invade o território russo, chega até Moscou, que encontra incendiada pelos próprios russos. Privado de bases de apoio, afastado da pátria e de centros de fornecimento, enfrenta ainda o inverno rigoroso e a resistência do povo. Vencido, retira-se.
O ano é 1812. A França é invadida e Napoleão abdica, sendo desterrado para a pequena ilha de Elba. Napoleão tem então 45 anos. Foge de Elba e, aplaudido pelo povo e pelas tropas, entra em Paris. Por cem dias, reassume o poder. Mas é de novo derrotado, dessa vez em Waterloo, pelos ingleses. Levado como prisioneiro para a ilha de Santa Helena, no Atlântico Sul, morre a 5 de abril de 1821, após 6 anos de exílio.










 
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