Atenas e seus governos

 

IMAGEM 01 - ACERVO LUDUS SCHOLA


“Um dia o velho Sólon, o grande legislador ateniense, chegou à corte do riquíssimo Creso, rei da Lídia. Este, depois de lhe mostrar seu palácio e seus tesouros, perguntou-lhe: Quem é o homem mais feliz da Terra? “O homem mais feliz que conheci”, respondeu-lhe o sábio, “era um certo Telo, cidadão de Atenas.” E a Creso, que era o mais rico da Terra, explicou Sólon: “Penso que Telo foi tão feliz, porque nasceu e viveu numa democracia, teve filhos bons e belos, uma vida serena e um fim glorioso no campo de batalha.”

Esta história, narrada pelo historiador grego Heródoto, deixa claro qual era a maior aspiração de um ateniense: viver num país livre, ou seja, numa democracia.

Mas nem sempre Atenas foi uma democracia. Esta cidade – polis grega que recebeu o nome da deusa Atena, sua patrona, foi uma monarquia até meados do século VIII a.C. No início, a população constituía-se de várias gens, grupos familiares que habitavam a mesma região e reunidos numa organização mais vasta. Os chefes das gens e seus descendentes primogênitos formavam a aristocracia, que tinha direito à posse hereditária da terra, além de privilégios civis e políticos. Mesmo governada por um rei - chamado basileus -, a população dos excluídos, gente sem-terra, secundogênitos, era dominada mais pelos chefes das gens, transformados em grupos de aristocracia territorial, do que pelos próprios soberanos. O poder monárquico foi enfraquecendo; os arcontes eleitos vitaliciamente pelas gens dinastai (juízes) hereditários que pertencem às gens, executam como leis as decisões dos chefes aristocráticos. O areópago (senado) é dominado por eles. E a monarquia - governo de um se transforma em oligarquia - governo de muitos.

Conta a lenda que o último rei ateniense foi Codros, no fim do século VIII a.C. Como a cidade estivesse ameaçada pela invasão dos dórios, consultou-se o oráculo de Delfos, que predisse: “Vencerá o Estado cujo rei for morto pelo inimigo.” Codros, então, teria-se sacrificado pela pátria: penetrando no acampamento adversário, disfarçado em simples soldado, deixou-se matar. Atenas venceu, mas a monarquia chegou ao fim, porque os atenienses acreditavam jamais encontrar um rei semelhante àquele.



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O governo dos “bem-nascidos”

 

Esta lenda é contada para explicar o surgimento da oligarquia, que foi, na verdade, uma consequência da repartição desigual da riqueza. De um único soberano, a cidade passou a ser dominada por um grupo privilegiado de cidadãos ricos, os eupátridas, isto é, os “bem-nascidos”. O cultivo da vinha e da oliveira, introduzido nesta época, exigia capitais volumosos. O tempo transcorrido do plantio à colheita destes produtos era longo. Só os lavradores de maiores recursos tinham meios de esperar pelos lucros. Os demais eram obrigados a recorrer a empréstimos. Muitos dos indivíduos das classes mais pobres terminaram como servos: começaram por hipotecar sua propriedade, depois a família e a si próprios para poderem sobreviver. Não conseguindo pagar as hipotecas, eram obrigados à servidão por dívidas.

Os eupátridas regiam o Estado e executavam a justiça segundo seus próprios interesses, pois não havia leis escritas, e, além disso, retinham todo o poder econômico, político e administrativo elegendo os arcontes entre si.

Comerciantes, artesãos, marinheiros e camponeses não tinham nenhum poder e nenhum direito.


O governo dos ricos

 

As primeiras leis escritas de Atenas, redigidas pelo arconte Dracón em 621 a.C., surgiram para acalmar a revolta popular contra o absolutismo dos eupátridas. Mas tal foi a severidade dessas leis, que elas apenas reforçaram o sistema de governo oligárquico. E o adjetivo draconiano acompanha, até agora, todo o ato demasiadamente excessivo. Dracón instalou uma Corte de Apelação, constituída por 51 juízes escolhidos entre os membros das gens, que apenas legitimavam o poder político nas mãos da aristocracia.


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No século VI a.C. formou-se um movimento popular da classe média urbana unida aos camponeses, exigindo que o governo se tornasse mais liberal. A necessidade de reformas levou outro arconte Sólon -, por volta de 594 a.C., à criação de um novo conselho a Eclésia (assembleia) do povo e o Bulé (conselho) dos 400 no qual podiam ser admitidos membros da classe média. A reforma de Sólon deu a todos os cidadãos que possuíssem bens a possibilidade de participar do governo da cidade. As hipotecas foram perdoadas e a servidão por dívidas, eliminada. Com isso, as classes inferiores foram libertadas e tornaram-se elegíveis para a assembleia. Outras medidas de Sólon: limitação da quantidade de terras que cada indivíduo podia possuir, imposição de pesadas penas à ociosidade, ensino obrigatório de um ofício às crianças, oferecimento de plenos direitos aos artífices estrangeiros que se instalassem no país, instituição de encargos fiscais proporcionais aos bens e instituição de um tribunal supremo.

É evidente que os nobres, perdendo muitos dos seus privilégios, não ficaram contentes com as reformas de Sólon. A isto veio juntar-se a insatisfação das classes média e inferior, que continuavam proibidas de exercer a magistratura e o arcontado: o governo continuava nas mãos de uma minoria rica.




A tirania

 

Os atenienses voltaram a um período de revoluções internas, às quais se somaram guerras externas. Era esta a situação em 560 a.C., quando Pisístrato assumiu o poder ilegalmente, isto é, através de um golpe. O poder ilegítimo chama-se em grego tirania. O tirano Pisístrato governou trinta anos e durante este tempo ele foi senhor absoluto da cidade. Confiscou terras de grandes proprietários e distribuiu-as entre os agricultores, desenvolveu o comércio marítimo e embelezou a cidade, construindo palácios, avenidas e aquedutos. Apoiando seu governo no povo, exilou muitos membros da aristocracia, que se opunham à ilegalidade de seu governo. Com sua morte, em 527 a.C., tomou o poder seu filho Hípias. Este, preocupado em vingar a morte de seu irmão Hiparco, assassinado em consequência de uma conspiração de jovens atenienses, estabeleceu um regime de terror e perseguições. Em 510 a.C. Hípias foi derrotado por um grupo de nobres que tiveram o auxílio de Esparta, a cidade inimiga de Atenas. O governante fugiu, exilando-se na Pérsia, e foi substituído por Clístenes.

 

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O governo do povo

 

Clístenes reformou definitivamente a legislação de Sólon. Dividiu a cidade em dez distritos, cada um reorganizado em sua estrutura habitacional. Homens de todas as categorias eupátridas e metecos (estrangeiros), camponeses e citadinos - deviam habitar em número igual cada distrito. Este, chamado em grego demo, tornou-se a célula-base da organização administrativa e jurídica. Cada distrito devia eleger um estratego (do grego, strategoi = chefe, general) e designar 50 senadores e 500 candidatos para o tribunal. Podia ser eleito qualquer cidadão do sexo masculino com mais de 30 anos de idade. Como todos tinham o direito de alcançar altos cargos políticos, o regime foi chamado de democracia, isto é, governo dos distritos, ou, por evolução do termo, do povo que os agora composto de 500 membros, divididos em habitava. O Bulé 10 comissões de 50, sendo uma de cada distrito foi transformado em órgão principal do governo e superou logo o areópago (senado), que provinha ainda dos dois grupos de maior renda. A democracia ateniense atingiu, juntamente com as artes e a cultura, a mais alta perfeição na época de Péricles, entre 461 e 429 a.C.




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