Montanhas altas, encimadas por neves eternas, rochas difíceis
e íngremes: Pireneus - 435 km de barreira que, do Atlântico ao Mediterrâneo,
separam a Espanha da Europa. Caem abrupta- mente para o norte e transformam-se
na vasta planície francesa. Mas, na direção sul, prolongam-se baixando apenas e
envolvendo a Espanha numa interminável cadeia de serras, planaltos e montanhas
que cobrem praticamente todo o seu território, fechando os raros vales e
planícies e transformando o país numa enorme meseta que aqui ou acolá e até as
costas irrompe com elevações maiores, mesmo na vizinhança dos mares.
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E a Espanha toda, quando vista de avião, adquire um lúgubre
aspecto de montanhosa estepe semidesértica e inabitável. Mas é habitado e por 30 milhões de pessoas este estranho país que faz parte da Europa, embora em nada
se assemelhe a ela no sentido geográfico. Durante séculos, aliás, a Espanha esteve
isolada da Europa.
Os primeiros iberos vieram, ali por volta do século XXX antes
de Cristo, da África setentrional. Eram hamitas e, sobrevivendo até os tempos
romanos, foram descritos por vários escritores latinos como de cor escura e
cabelos crespos. Das costas africanas vieram também os fenícios e cartagineses;
pelas costas meridionais chegaram ali os romanos para impor sua cultura.
Estiveram ainda na Espanha os gregos bizantinos e os árabes, que naquelas
terras implantaram seu domínio durante mais de sete séculos, e também esses povos
vieram pela África. Com efeito, é melhor vir à Espanha da África, através do
estreito de Gibraltar, do que do resto da Europa, pelo mar.
E é mais fácil ancorar vindo da África, no único golfo plano
e sem escarpas do país o golfo de Cadiz, do que atravessar os Pireneus. Por
este caminho, só conseguiram invadir a Espanha os visigodos. Mas foram precisa-
mente os descendentes destes conquistadores que conduziram, alguns séculos mais
tarde, a reconquista da Espanha aos árabes.
A passagem de tantos povos pela Espanha complementou e
enriqueceu a aridez da paisagem montanhosa e triste. A paisagem geográfica
incorporou-se a humana, moldada pela História, de modo a formarem um todo. Os
aquedutos romanos demonstram a preocupação administrativa de Roma de, através
do fornecimento da subsistência básica às regiões áridas, unir todo o
território sob uma administração uniforme. Já a preocupação dos visigodos era
outra: defensiva e guerreira. Mas os vestígios mais duradouros foram deixados
pelos árabes: as estruturas das cidades, bem como a música, a dança, o
folclore, o vestuário. E há uma quarta influência, talvez a mais tardia, mas a
mais duradoura: o catolicismo, que jamais, em qualquer outro país, ficou tão
unido à estrutura estatal quanto na Espanha. Isso, sem falar nos rastros culturais
dos celtas, fenícios, gregos e judeus, todos misturados pela História para
formar um só povo – o
povo espanhol de hoje.
A adversa natureza
Mas, ainda assim, a natureza forçou a sua evolução. Os montes
Cantábricos conseguiram isolar do resto do país, fixando-os na costa atlântica,
os bascos, jamais de lá afastados por nenhum dos invasores. Até hoje falam o
seu idioma, pertencente a alguma desconhecida família pré indo-europeia, que
desafia os filólogos. No outro extremo está a Catalunha - com sua cultura
própria e sua linguagem aparentada mais com o provençal da França meridional do
que com os outros idiomas da Espanha. Pois ali há mesmo vários idiomas: o galego,
o andaluz, o valenciano. Mantêm-se, na fala do povo, as tradições idiomáticas
dos antigos invasores. Mas foi o idioma de Castela que se tornou a língua
oficial do país. Sem impor-se aos costumes seculares do povo, separado em províncias
que, graças à dificuldade de comunicação, mantêm suas peculiaridades. E nem sequer
os rios ajudam como nas outras terras. Primeiro, são poucos. Segundo, quase
todos intransitáveis: têm a vencer tantas montanhas que se tornam caudalosos,
muitas vezes estreitos, quase sempre cheios de curvas abruptas e inesperadas.
Quatro levam suas águas para o Atlântico: o maior, Tejo – Tajo, em espanhol, mede 1010 km.
Forma inúmeras cascatas em seu curso e só se acalma no trecho pertencente a
Portugal. Depois, mais ao norte, o Douro Duero, que desemboca na cidade lusitana
do Porto. Finalmente, Guadalquivir e Guadiana, ambos mais ao sul.
Em direção ao Mediterrâneo, um rio é digno de nota: o Ebro. Só
o Guadalquivir, de Córdoba a Jerez, e o Ebro, de Saragoça a Tortosa, conseguem
encontrar planícies para nelas se espalharem. E ainda dois rios menores: o
Júcar e, mais ao sul, o Segura, que termina numa planície entre Alicante e
Cartagena.
Essas são as três planícies que dão acesso à Espanha pelo
mar. Dos portos de Cádiz e San-lúcar no curso do Guadalquivir saíam as expedições
para o além-mar, enriquecendo até as cidades interioranas ligadas a eles pelo
rio e pela planície: Sevilha e Córdoba. E era através de Cartagena que vinham à Espanha os fenícios e os bizantinos. Mas os melhores ancoradouros escondem-se
nas rias – vales fluviais invadidos pelas águas do mar – da costa da Galiza,
onde se encontram, entre outros, La Coruña e Vigo.
À Espanha europeia pertencem ainda as ilhas mediterrâneas de
Baleares quatro ilhas (Mallorca, Minorca, Ibiza e Formentera) de excelente
clima, habitadas pelos catalães; e as ilhas Canárias, já na altura do Marrocos,
habitadas pela população mestiça. Muitos imigrantes vieram de lá ao Brasil no
século XIX.
Inverno e inferno
“Na meseta nove meses são de inverno e três de inferno” – dizem os espanhóis da meseta de
Castela, planalto que ocupa mais da metade do país, com altitude média de 600
m.
Os rigores do clima tornam o solo pouco fértil e a paisagem muito sombria. Dezenas de quilômetros podem ser percorridos sem se encontrar
uma só árvore ou casa. A única riqueza vegetal é o esparto, planta da qual se
fabricam cestos e cordas trançadas para sola de lpercatas. Esta região
presta-se à criação de ovinos, e suas ovelhas são famosas pela abundante e de
boa qualidade. No centro da meseta fica Madrid.
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