
A influência dos mesopotâmicos e egípcios no
conhecimento astronômico da Grécia Antiga foi notável. As constelações,
por exemplo, vieram de lá. O primeiro a sistematizar essa organização das
chamadas “estrelas fixa” em agrupamentos reconhecíveis foi Eudóxio de Cnido
(408 a.C.-347 a.C.). Embora a primeira referência conhecida deles remeta ao
trabalho desse grego, fica claro que o conhecimento não era originário dele,
mas sim de estudiosos da Mesopotâmia – que, no final das contas, não foram os únicos
a ter essa ideia. Assim como eles, todos os povos de uma forma ou de outra,
cada um a seu próprio tempo, agruparam as estrelas e a elas associaram objetos,
deuses, mitos, seres etc., inclusive os índios brasileiros.
Essa, no entanto, era apenas mais uma ação de
categorização, sem qualquer pretensão de fornecer explicações de como o mundo
estava organizado. O modo de pensar mesopotâmico não permitia avançar muito
mais, mas a Grécia, com seus grandes filósofos e uma liberdade maior de
pensamento e religião, proporcionaria uma reflexão mais sofisticada dos fenômenos
celestes. A começar pela definição da forma da Terra.
Ao contrário do que se costuma pensar, desde muito
cedo os pensadores desconfiaram de que o mundo não fosse plano, achatado. Numa
civilização de navegantes, como a grega, não era rara a oportunidade de
observar um navio se afastando no horizonte. Essa simples observação já
indicava que a Terra, a grandes distâncias, possuía uma curvatura – conforme a
embarcação se afastava, primeiro a parte inferior do navio desaparecia do
horizonte, e a última coisa a sumir era o mastro, no topo, como se a embarcação
estivesse “descendo”; na verdade, acompanhava a curvatura terrestre.
IMAGEM 02- ACERVO LUDUS SCHOLA
O primeiro a formalizar esse pensamento foi
Anaximandro, no século 6 a.C. Partindo dessa observação elementar, ele concluiu
que a Terra na verdade era... um cilindro! Somente mais tarde, com a popularização
da noção grega clássica de que a esfera é a forma geométrica mais perfeita (em
grande parte proporcionada pela atribuição de Pitágoras ao valor da matemática
como significado real do mundo), a Terra seria considerada uma esfera –
pensamento que predominou desde então, ao menos entre os mais estudados.
Foi com Eudóxio que esse tratamento “esférico” acabou
estendido a todo o cosmos. Ele organizou o Universo com a Terra no centro,
esférica e imóvel, envolta por diversas outras esferas que explicavam o
movimento das estrelas fixas, já mencionado, e dos sete “planetas” (na
concepção geocêntrica do mundo, esse termo incluía também o Sol e a Lua), que
se posicionavam, a cada dia, ligeiramente diferentes em relação às estrelas e
algumas vezes pareciam fazer ziguezagues difíceis de explicar.
IMAGEM 03- ACERVO LUDUS SCHOLA
Uma esfera, é claro, não bastava para esclarecer todos
os movimentos planetários, de modo que Eudóxio teve que atribuir quatro esferas
para o Sol, quatro para a Lua, e três para os demais planetas conhecidos (Mercúrio,
Vênus, Marte, Júpiter e Saturno), mais uma para as estrelas fixas – a última
camada do cosmos, visto então como finito.
No total, 27 esferas participavam do esquema. Mas esse
modelo jamais foi capaz de explicar satisfatoriamente todas as observações
astronômicas. Conclusão natural, portanto, que ele tenha sido gradativamente “aperfeiçoado”,
com a inclusão de novas esferas, ainda que mantido sobre suas premissas
iniciais. Nesse sentido, destacou-se o trabalho de Aristóteles (384 a.C.-322
a.C.), filósofo grego que começou como discípulo de Platão, mas logo passou a
rivalizar com o antigo mestre.
Platão (427 a.C.-347 a.C.) acreditava que todas as
observações à nossa volta eram meras sombras, e que a Verdade, com “vê”
maiúsculo, escondia-se num outro plano, o chamado “mundo das ideias.
Essa realidade, para ele, era acessível apenas pela
razão. Aristóteles, em contrapartida, acreditava que as observações, combinadas
à razão, produziriam uma visão satisfatória da realidade física. Assim
interpretado, seu pensamento iniciou o binômio hipótese-observação que serviria
de alicerce para a ciência moderna.
No entanto, ao ser o iniciador de tal movimento,
Aristóteles ainda faria muitas suposições equivocadas sobre a natureza do
mundo.
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