Quando
os portugueses chegaram às praias da Bahia e se viram diante da escarpa do
Planalto Brasileiro, imaginaram estar numa terra de grandes montanhas. No
entanto, mais tarde se verificou que o Brasil é um país de relevo arredondado e
de modestas altitudes, constituído por vastos planaltos corroídos e rebaixado
pelo trabalho das águas. Nossas maiores serras não passam de escarpas desses
planaltos, que no litoral têm encostas abruptas e no interior declinam em plano
mais suave.
IMAGEM 01 - A FACE DO PAÍS E A FORMA
DA CONQUISTA-A
A
linha das costas
Em seus 8.000 km de extensão, o nosso litoral mostrasse maciço como o africano, e sem aquela infinidade de golfos, baías e penínsulas e se veem nos mapas da Europa. A costa nordestina resume-se praticamente numa longa praia muito regular com trechos de costas altas: as barreiras. Já no litoral sudeste encontram-se alguns recortes: as praias são mais curtas do que as nordestinas e muitas delas se localizam em pequenas enseadas. Em certos pontos, paredões rochosos avançam mar adentro, formando grandes baías. Ainda assim, o relevo costeiro é bem mãos que regular que o da Europa. No Sul, a faixa litorânea retoma seu aspecto mais regular sob a forma de uma planície arenosa que se prolonga até a fronteira com o Uruguai.
Litoral:
os primeiros núcleos
Nos primeiros tempos após a
descoberta, Portugal não manifestou grande interesse pelo Brasil. Mas os
ingleses, franceses e holandeses aqui iniciaram imediatamente a exploração do
pau-brasil, madeira muito procurada na época. Quando a coroa portuguesa viu o
rumo que a situação estava tomando, tratou de modifica-las, enviando para o
Brasil diversas expedições com a finalidade de tomar posse efetiva da terra e
criar núcleos de povoamento. Mais tarde, estabeleceram-se ao longo da costa as
sedes das capitanias hereditárias, das quais se originaram as cidades de São
Vicente, santo, Salvador, Rio de Janeiro e outras. Dessa forma, em sua fase
inicial, a colonização brasileira foi só litorânea.
Nordeste:
o progresso em açúcar
Os colonizadores não
careciam de coragem para enfrentar a barreira da serra do Mar que os separava
do interior. Porém, o litoral nordestino oferecia condições tão favoráveis ao
cultivo da cana de açúcar, que preferiram dedicar-se a essa atividade — mais
lucrativa e menos trabalhosa. Favorecida pelo clima quente e úmido, pelo fértil
solo “massapé” e pelo relevo plano, a lavoura canavieira rapidamente tomou
conta da região, dando origem ao “ciclo do açúcar”. A importação de escravos
africanos para o trabalho nos engenhos ajudou o desenvolvimento da economia e
influenciou de modo significativo o povoamento daquele trecho da costa.
São
Paulo: do outro lado da serra
No litoral sul, em
condições adversas para o desenvolvimento agrícola, os jesuítas, vindos de Portugal
para catequizar os índios, e os portugueses orientados por João Ramalho, antigo
morador do planalto paulista, empreenderam a escalada da serra do Mar rumo ao
interior. Uma vez vencido o obstáculo, tiveram uma surpresa: o relevo do
interior era um planalto suavemente ondulado, que de forma alguma impedia o
avanço para o oeste.
Aproveitando o terreno
favorável que existia entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú, os jesuítas ali
fundaram o Colégio São Paulo, em torno do qual se formou um povoado.
Sem nenhum recurso
econômico de real valor, os habitantes do planalto paulista viviam da criação
de gado e da agricultura de subsistência. Para escapar à vida apertada que
levavam, criaram uma atividade muito lucrativa: a caça ao índio, que era depois
vendido como escravo aos fazendeiros do Nordeste. Mas quando os fazendeiros
nordestinos descobriram que importar negros da África era mais proveitoso do
que manter os escravos índios —, os paulistas tiveram de mudar de ramo:
deixando em paz os índios, dedicaram-se à busca de metais e pedras preciosas.
Passaram então a avançar pelo interior adentro, desvendando a terra
desconhecida e ampliando assim — sem o saber — as fronteiras do poder
português. Embora os bandeirantes não se interessassem particularmente pela
colonização, das suas expedições resultaram vários núcleos de povoamento.
O povoado de São Paulo
constituía um entroncamento de diversas passagens naturais e por isto foi usado
pelos bandeirantes como centro de irradiação. Partindo dali eles seguiram para
o norte, cruzando a Serra da Mantiqueira até atingir Minas gerais e Bahia. No
sentido sul, graças ao corredor formado entre a serra e o planalto ocidental,
conseguiram chegar até o Rio Grande do Sul. Marchando para o oeste ao longo do
curso do Tietê, atravessaram todo o estado de São Paulo e alcançaram o Mato
Grosso e Goiás.
Borborema:
o gado e a gente
No nordeste, os índios e
mamelucos foram obrigados a dedicar-se à criação de gado. Que se distribuiu
pela Chapada da Borborema. A região é um planalto bastante regular, cortado por
rios temporários, com uma vegetação do tipo “caatinga”. Ladeando a chapada,
existem depressões no terreno, as quais formam uma espécie de caminhos
naturais. Através deles, a criação de gado se propagou, fixando-se em duas
regiões principais: ao sul, no vale médio do Rio São Francisco e ao norte, no
interior dos estados do Piauí e Maranhão. Contudo, tanto em uma como na outra
área, os núcleos de povoamento originados dessa fase de atividade pecuária
foram poucos e esparsos.
Amazônia:
as drogas do sertão
Até o princípio do século
XVII, ninguém se aventurava pelo Norte. Mas daí por diante os exploradores
começaram a percorrer a Amazônia, em busca dos produtos da flora medicinal da
região — as “drogas do sertão”.
A cidade de Belém, então
recém fundada, tornou-se o ponto de partida de expedições que se aprofundaram
pelo interior. Algumas delas atingiram os contrafortes dos Andes, navegando rio
acima pelo Amazonas. Várias missões religiosas se estabeleceram no “Meio Norte”,
como eram chamados Maranhão e Pará, e na Amazônia, para promover a colonização.
IMAGEM 02 - A FACE DO PAÍS E A FORMA
DA CONQUISTA-B
Minas Gerais: ouro
Ao
terminar o século XVII, os bandeirantes paulistas descobriram ouro na Serra do
Espinhaço — o prolongamento norte da Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais.
Embora se tratasse de uma região de conquista difícil, com altitudes que
ultrapassam 1.500 metros em alguns pontos — para lá afluiu muita gente, em
busca da fortuna. Formaram-se cidades que cresceram rapidamente, como Vila
Rica, da qual se originou a atual Ouro Preto.
O século XVIII encontrou o planalto já povoado de forma efetiva. O litoral estava conquistado em toda a sua extensão e os núcleos das principais cidades marítimas brasileiras da atualidade achavam-se solidamente estabelecidos. Foram eles que serviram de portas de entrada para as correntes de povoamento que formaram as populações do interior dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro e, depois, do Paraná, Mato Grosso e outros.
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